Poder de comando é diferente de liderança, uma das lições da obra literária “A Revolução dos Bichos”
É comum associar liderança com o poder de dar ordens e tomar decisões. No mundo corporativo, ocupar altas posições em uma companhia significa ter poder de comando diante de uma equipe, de tomada de decisão sobre objetivos e estratégias, de direcionar o investimento financeiro de determinada área ou empresa.
Mas ter poder não significa necessariamente ser um líder. Anos atrás, li “A Revolução dos Bichos” que foi marcante justamente pela forma como aborda a questão do poder. Apesar do título, o clássico da literatura moderna não tem nada de infantil.
Escrito pelo autor inglês George Orwell e publicado em 1945, o livro “A Revolução dos Bichos” faz associações com o contexto histórico da primeira metade do século XX, especialmente com a revolução russa. Mas, independentemente do contexto de época, a abordagem do autor faz pensar sobre a questão do poder de forma ampla na sociedade.
A história se passa em uma fazenda, a Granja do Solar, onde os animais, cansados de serem explorados pelos humanos, decidem fazer uma rebelião pela liberdade e igualdade. Liderados por alguns porcos, considerado os animais mais inteligentes e capacitados da fazenda, eles expulsam o dono (humano) da granja e tomam o poder. No princípio, os animais definem regras voltadas a proteger o interesse coletivo, passam a usufruir dos resultados do próprio trabalho com liberdade, horas de descanso e lazer.
Mas com o tempo, a situação começa a mudar e os porcos passam a abusar da sua posição de liderança e autoridade, exigindo privilégios, usufruindo de regalias e tomando decisões aleatórias para contemplar o seu interesse individual ao invés do interesse coletivo. As regras são alteradas sem explicação lógica em diferentes momentos para atender a algum capricho dos porcos. Na prática, a exploração volta a acontecer na fazenda só que com protagonistas diferentes.
O livro retrata os dilemas de poder comuns na humanidade em diferentes contextos e o mundo corporativo é um deles. Dilemas capazes de levar à instauração de tirania, ditadura e autoritarismo extremos. Na obra literária, isso aparece como um estereótipo, mas ao trazer a reflexão para o ambiente empresarial surgem alguns alertas importantes para a liderança. Cabe a todo o líder valorizar a opinião dos colaboradores e da sociedade, escutar de forma genuína o cliente e prezar por uma gestão que traga resultados econômicos ao negócio, mas também benefícios ao coletivo.
Ser um líder vai além de exercer poder. A liderança requer compromisso com a ética, o respeito, a governança e a responsabilidade social. Ela deve ser exercida com a consciência de que as atitudes tomadas têm repercussão no bem coletivo não só da empresa, de seus colaboradores e clientes, como também da economia do país, do desenvolvimento e do bem-estar da sociedade.