Você tem acompanhado as discussões em torno do uso da Inteligência artificial na dublagem?

Haroldo Jacobovicz
3 min readSep 21, 2023

O poder da Inteligência Artificial (IA) impressiona (e até amedronta) muita gente. Eu me incluo nesse grupo e justamente por isso tenho falado bastante sobre o assunto.

O ChatGPT é um bom exemplo. Afinal, é difícil pensar em um robô virtual, autônomo, capaz de demonstrar naturalidade humana em sua comunicação, sem se perguntar sobre os possíveis perigos que ele pode proporcionar. A reflexão fica por conta de cada um. Neste texto, minha proposta é refletir sobre outra situação similar: a interferência da inteligência artificial na criação de vozes.

Em junho deste ano, o jornal Folha de S.Paulo publicou reportagem sobre a luta de dubladores e locutores contra o uso de IA na área de atuação deles. Segundo publicou a matéria, o advento da inteligência artificial generativa, capaz de criar vozes sintéticas que se diferem muito pouco das humanas, ameaça os empregos de locutores, dubladores e narradores de audiolivros que, ironicamente, alimentam essa tecnologia.

Navegando pelas redes sociais, talvez você já tenha encontrado exemplos na prática — dublagens em vários idiomas, vozes que se confundem com a de artistas conhecidos ou simulam alienígenas sendo feitas pela IA. É quase como mágica, só que as dúvidas em relação a isso são muitas.

Será que tal tecnologia vai, de fato, ser adotada amplamente pelas produtoras de audiovisual? O trabalho dos dubladores vai acabar? Talvez isso seja financeiramente vantajoso para as produtoras, mas vale a pena em termos de conteúdo de qualidade? É uma prática eticamente correta? Onde fica a arte e o talento nisso tudo? Quais são os riscos envolvidos?

A Folha de S.Paulo informa na reportagem de junho sobre a criação da Organização das Vozes Unidas, OVU, composta por cerca de 20 associações e sindicatos de Europa, Estados Unidos e América Latina O objetivo é incentivar projetos de lei voltados a regulamentar o equilíbrio no uso da inteligência artificial e da criação humana. Eles criaram o lema “não roubem nossas vozes”. Segundo reporta o jornal, nas palavras da OVU, o uso “indiscriminado e não regulamentado” de IA pode extinguir um “patrimônio artístico de criatividade […] que as máquinas não podem criar”.

Puxando para o nosso lado, não é de hoje que rasgamos elogios para a classe de dubladores brasileiros. Vozes que marcaram gerações, que, além da técnica, incorporam expressões regionais, fazendo com que muitas “piadas internas” caiam na graça do público e viralizem, transformando-se em bordões ou memes repetidos inúmeras vezes. Quantas vozes você já reconheceu em dois, três, quatro personagens diferentes? Quantos sotaques tipicamente brasileiros você já identificou (e adorou ver) em filmes estrangeiros?

Mas, é importante lembrar que essa é uma via de mão dupla — assim como há quem ame tudo isso, também há quem odeie. Tem o público que simplesmente não gosta de associar a voz de um personagem a outro, ou que se incomoda quando considera que a voz do dublador não é compatível com a original. Sem falar quando há a troca do dublador de um personagem no meio de uma série, por exemplo — é indignação na certa! Talvez, ainda, os próprios atores estejam animados com a possibilidade de suas “vozes originais” serem espalhadas mundo afora.

Mas, independentemente de qual lado cada um defenda, o fato é que reflexões sobre o assunto não faltam. É crucial analisar o quanto a evolução (nesse nível) da inteligência artificial impacta em nossas vidas — pensar em quais riscos ela pode trazer, o quanto ela pode nos expor (ainda mais) às famigeradas fakenews ou, mesmo, o quanto ela pode prejudicar o trabalho (e, por consequência, a vida) de alguém, bem como de uma classe profissional.

Veja bem, não estou dizendo aqui que o uso da IA é ruim. Contudo, estou, sim, afirmando que refletir sobre isso é necessário! É preciso ter cautela, prudência, pesar prós e contras e buscar o equilíbrio em todos os setores da vida — seja ela pessoal ou profissional.

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Haroldo Jacobovicz
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Written by Haroldo Jacobovicz

Engenheiro Civil, Empresário e Investidor Brasileiro. Fundador da Arlequim Technologies S/A | Curitiba, Paraná Brasil | http://haroldojacobovicz.com.br/

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